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sábado, 12 de janeiro de 2008

Tonhão Romântico e Idealista

Tonhão escreveu para VEJA, que, por sua vez, publicou um artigo sobre o Che Guevara absolutamente ridículo sob todos os aspectos: 1. a reportagem era superficial, amadora, destituída de um mínimo de apreciável conteúdo; 2. era uma propaganda anti-socialista tão mal-disfarçada que beirava o grotesco. Reparem o título: ''Che, A Farsa do Herói''. Céus! Isso é título de panfleto político distribuído na esquina. Inacreditável! E na capa da revista!
Por outro lado, é sabido que VEJA é uma revista anti-socialista, com pouca ou nenhuma simpatia por soluções sociais diretas. Ela defende aquelas teses de que tudo se resolve com muita produção, mercado, estado enxuto etc. E por aí vamos nós, 500 anos de estrada e nada. Até aí tudo bem, eu aceito, embora discorde. Agora, triste é prestar-se a uma reportagem tão barata, rasteira.
Só havia um intuito naquele texto vulgar e primário: denegrir a imagem de um figura histórica respeitada até por seus inimigos ideológicos. Pode-se, é certo, demolir a imagem de quem quer que seja. Mas com argumentos sólidos, pesquisa aprofundada, jornalismo de qualidade. Ao contrário, Veja publicou um enfadonho panfleto anti-socialista e, do ponto de vista jornalístico, um artigo deprimente. Parecia uma daquelas propaganda dissimuladas sob a forma de matéria. Aí já é descer demais. Foi melancólico. VEJA perdeu o respeito até dos seus adversários serenos, que, como eu, sempre a li e respeitei. Virou uma revistinha. Desceu, desceu muito. Triste. Até mesmo os leitores partidários das idéias que a revista acolhe e difunde perceberam. Foi de encabular.

A carta sarcástica de Tonhão, eterno sonhador, está aí abaixo.

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Li, com grande interesse, e, ao final, com grande alegria, a reportagem de capa intitulada "CHE, A FARSA DO HERÓI".

VEJA aponta os inúmeros defeitos, as falhas, os equívocos e mesmo os aspectos psicopatológicos do mito. A revista simplesmente mostra a cada um de nós quão de carne e osso foi esse grande herói, como tantos outros, como Churchill, Roosevelt, Gandhi, Lenin etc. Heróis não são deuses, não são anjos, não são super-homens. E a grandeza de cada um deles reside precisamente na superação de tantas e tão humanas limitações e na importância maior de seus ideais.

A reportagem, ao nos remeter à dimensão humana do guerrilheiro, nos remete, também, ao herói que cada um de nós pode trazer dentro de si, se abdicarmos de uma vida menor em prol de uma causa maior. Por isso é que Che Guevara é e será sempre um exemplo: renegou a melancólica "felicidade" de uma cômoda carreira de médico para internar-se, mesmo doente e asmático, nas selvas de países pobres tentando sublevar populações miseráveis contra governos opressores. Ninguém pode negar que ali estava um herói. Todos sabemos reconhecer um herói, independentemente de nossos credos político-ideológicos. E o Che foi um herói inquestionável.

Tenho certeza de que a partir dessa matéria, milhares e milhares de leitores de VEJA passarão a admirar ainda mais o grande revolucionário.

De tudo o que se disse na reportagem, o que fica mais claro para o leitor, ao final, é a obstinação idealista do guerrilheiro. Jamais esmoreceu. O Che derrotado na África e morto na selva boliviana é infinitamente maior que o Che triunfante em Cuba, entre charutos e mulheres: é o Che que não descansou sobre os louros e seguiu idealista até a morte.

É no Che maltrapilho, preso, amarrado, humilhado e assassinado na selva boliviana que está o mito, o mártir.

E ao depreciar e humanizar o mito, VEJA engrandeceu o herói.

Parabéns a VEJA!

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